Enquanto o governo federal celebra a queda do desmatamento na Amazônia, um novo relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) expõe um dado alarmante: a degradação da floresta aumentou 44% em apenas um ano e 163% desde 2022, último ano do governo Bolsonaro. O levantamento é do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite (Prodes e Deter/Inpe).
Só em 2024, foram 25 mil quilômetros quadrados de floresta degradada — uma área maior que o estado de Sergipe. Cerca de 66% desse total foi impactado por incêndios florestais, intensificados por uma das piores secas da história recente da região e pela ausência de uma resposta eficiente e coordenada dos órgãos públicos.
Segundo o pesquisador Guilherme Mataveli, a degradação é menos visível que o desmatamento, pois as árvores ainda estão de pé, mas os ecossistemas estão gravemente afetados. “É provocada principalmente pelo fogo, corte seletivo e efeito de borda. A floresta perde funcionalidade ecológica”, explica. Isso significa que a vegetação degradada deixa de fornecer serviços ambientais essenciais, como regulação do clima, manutenção da biodiversidade e retenção de carbono.
O paradoxo ambiental se agrava quando se observa que o desmatamento caiu 27,5% em relação a 2023 e mais de 50% em relação a 2022 — o menor índice em mais de dez anos. O problema é que a degradação não é contabilizada da mesma forma, o que distorce o retrato da floresta.
Outro dado do Inpe amplia a preocupação: a Amazônia registrou mais de 140 mil focos de calor em 2024, o maior número desde 2007. As temperaturas até 3ºC acima da média e o déficit de até 100 mm nas chuvas mensais criaram um ambiente propício para incêndios devastadores.
Para o cientista Luiz Aragão, coautor do estudo, “a degradação precisa ser tratada com a mesma seriedade que o desmatamento”. Ele defende que os danos causados devem integrar os Inventários Nacionais de Emissões de Gases de Efeito Estufa, pois têm impacto direto nas metas climáticas internacionais assumidas pelo Brasil.
Brasil em xeque na agenda global
A explosão da degradação coloca em xeque a imagem internacional do Brasil como líder no combate às mudanças climáticas. Mesmo com políticas de preservação mais robustas na gestão Lula, os efeitos da crise climática e a falta de medidas específicas para lidar com a degradação silenciosa podem comprometer o protagonismo brasileiro em fóruns como a COP30, que será realizada em Belém (PA), em 2025.
O desafio agora é ampliar a fiscalização, acelerar o combate a incêndios e investir em restauração ecológica. O tempo, porém, corre contra a floresta. E o fogo, contra o discurso oficial.