O apresentador William Bonner, âncora do Jornal Nacional, reacendeu o debate sobre o papel das redes sociais na difusão de informações, ao afirmar recentemente que as plataformas digitais representam um “problema para a humanidade”. A declaração foi feita durante um evento interno da Rede Globo, no momento em que o principal telejornal da emissora enfrenta sucessivas quedas de audiência.
A fala de Bonner veio logo após a divulgação de dados do Kantar Ibope, apontando que o Jornal Nacional teve um dos seus piores desempenhos de audiência nas últimas duas décadas. Entre os principais fatores citados por analistas de mídia estão o crescimento do consumo de notícias por meio de redes sociais, canais independentes no YouTube e veículos digitais de jornalismo.
Críticas nas redes e acusações de tentativa de controle da informação
As declarações do jornalista geraram forte reação nas redes sociais. Muitos internautas acusaram a Globo de tentar “culpar a internet” pela perda de relevância e de pressionar por novas formas de regulação de conteúdo digital, que poderiam restringir a liberdade de expressão.
Algumas publicações também lembraram episódios anteriores em que a Globo foi criticada por supostamente ter omitido ou distorcido informações importantes durante a pandemia da Covid-19. Durante o auge da crise sanitária, a emissora foi alvo de acusações de alinhamento automático com determinadas narrativas oficiais, sem espaço suficiente para pontos de vista divergentes, especialmente quando se tratava de debates sobre tratamentos, estatísticas e restrições.
Marco legal das redes sociais e novo cenário de comunicação
O episódio acontece em meio ao avanço de projetos de lei no Congresso Nacional que discutem a regulação das plataformas digitais, como o chamado PL das Fake News (PL 2630/2020). A proposta, que tramita há anos, ganhou força novamente com apoio de setores do governo federal, do STF e de grandes grupos de mídia, incluindo a própria Globo.
Por outro lado, críticos do projeto — incluindo parlamentares da oposição e entidades de liberdade de imprensa — alegam que as medidas podem abrir brechas para a censura estatal e o controle centralizado da informação, com impactos diretos sobre criadores de conteúdo, jornalistas independentes e influenciadores.
Perda de monopólio da informação
Especialistas em comunicação apontam que o cenário atual representa uma mudança estrutural no ecossistema da informação. Até o início dos anos 2000, poucos grupos de mídia concentravam o acesso à notícia no Brasil. Hoje, com a democratização da produção e do consumo de conteúdo pela internet, a audiência migrou para centenas de canais alternativos, o que reduziu o poder de influência dos telejornais tradicionais.
De acordo com o Digital News Report 2025, do Instituto Reuters da Universidade de Oxford, apenas 10% dos brasileiros ainda consomem notícias via jornal impresso e uma fatia crescente prefere obter informações via redes sociais e aplicativos.