O governo do Irã, por meio de seu embaixador em Brasília, Abdollah Nekounam, agradeceu nesta quinta-feira (26/6) o apoio do Brasil durante o recente conflito armado de 12 dias entre Teerã e Israel. A manifestação ocorreu em coletiva de imprensa realizada na sede diplomática iraniana no Brasil.
Além de reconhecer o posicionamento brasileiro, Nekounam exaltou o papel do Brics — bloco do qual o Irã passou a integrar oficialmente em 2024 — na defesa do direito internacional e na criação de uma nova ordem mundial multipolar.
“Agradecemos ao governo brasileiro e aos Brics, que condenaram os ataques ao nosso programa nuclear, que é para fins pacíficos e está atuando conforme o direito internacional”, afirmou o diplomata iraniano.
Conflito direto entre Irã e Israel
A guerra mencionada pelo embaixador ocorreu em abril, quando o Oriente Médio viveu uma escalada inédita de hostilidades. O estopim foi um bombardeio israelense ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, que matou oficiais da Guarda Revolucionária iraniana. Em retaliação, o Irã disparou mais de 300 drones e mísseis contra Israel — a maioria, segundo as Forças de Defesa israelenses, foi interceptada.
Durante o episódio, o Brasil divulgou notas oficiais pedindo moderação e cessar-fogo imediato, postura que, segundo diplomatas iranianos, foi considerada sinal positivo de equilíbrio na política externa brasileira.
Brics e nova ordem mundial
Na coletiva, Nekounam também citou a recente declaração conjunta dos Brics, divulgada há dois dias, que condenou ataques de Israel e dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas. Para Teerã, essas agressões violam o direito internacional.
“Os Brics não existem apenas para publicar declarações, mas sim para criar um novo caminho, colocar em ordem as partes que estão falando à ordem internacional”, destacou o embaixador, defendendo que o bloco tenha papel mais ativo em reformas nas instituições globais.
O Irã, que integra o Brics junto com Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia, busca expandir seus laços econômicos e diplomáticos, sobretudo devido às sanções internacionais que afetam sua economia.
Participação em cúpula no Brasil
Questionado se o recém-eleito presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, participará pessoalmente da cúpula dos Brics marcada para 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, Nekounam disse que a questão ainda está sendo avaliada pelo governo iraniano.
“Há discussões sobre a participação do presidente Pezeshkian. O assunto está sendo analisado em Teerã, e a decisão será tomada em breve”, afirmou.
A presença de Pezeshkian no evento é vista como um indicativo importante da integração iraniana ao bloco e poderá influenciar discussões sobre comércio, segurança energética e governança global.
O Itamaraty ainda não comentou as declarações do diplomata iraniano até a publicação desta reportagem.