A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (13) o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto, aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sob suspeita de obstrução de Justiça. A prisão foi autorizada após a PF reunir indícios de que Machado teria tentado viabilizar a emissão de um passaporte europeu para o tenente-coronel Mauro Cid, que é réu em ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionada à tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Segundo as investigações, Machado entrou em contato com o Consulado de Portugal no Recife, onde reside, em maio deste ano. O objetivo seria facilitar a obtenção de um passaporte português em nome de Mauro Cid, o que poderia permitir sua evasão do país antes do fim da instrução processual da Ação Penal nº 2.688, que trata da trama golpista.
Defesa nega e fala em “questão familiar”
Em declaração ao jornal O Globo, o ex-ministro reconheceu que fez contato com o consulado, mas negou qualquer ligação com Mauro Cid, alegando tratar-se de um pedido relacionado a seu pai.
“Estou surpreso. Nunca fui atrás de nada a respeito de Mauro Cid. Tratei do passaporte para o meu pai”, disse Gilson Machado.
A versão, no entanto, não convenceu a PF nem a Procuradoria-Geral da República (PGR), que entendem haver elementos suficientes para suspeitar de tentativa de obstrução da Justiça. A PGR afirmou que a ação pode configurar também favorecimento pessoal, e pediu o aprofundamento das apurações.
“As informações reunidas apontam elementos sugestivos de uma ação para obstruir a instrução da Ação Penal n. 2.688/DF […] possivelmente para viabilizar a evasão do país do réu Mauro Cid”, diz parecer da PGR.
Mauro Cid nega envolvimento
O próprio Mauro Cid, ao deixar o STF na última terça-feira, disse que não havia solicitado passaporte e afirmou que a notícia era “uma novidade” para ele. Seu advogado, Cezar Bitencourt, também negou qualquer intenção do ex-ajudante de ordens de deixar o país.
“Não, absolutamente nada. Não tinha interesse nenhum em sair do país”, afirmou Bitencourt.
Cidadania portuguesa e rastros anteriores
A PF ainda lembrou que em janeiro de 2023, antes de sua primeira prisão, Mauro Cid procurou serviços de assessoria para a obtenção de cidadania portuguesa, o que reforça a suspeita de um plano de fuga anteriormente considerado. A nova tentativa, agora atribuída a Machado, seria uma continuidade dessa estratégia.
Machado, aliado de Bolsonaro, também é investigado por vaquinha de R$ 1 milhão
Gilson Machado foi ministro do Turismo entre 2020 e 2022, e concorreu à prefeitura do Recife em 2024 pelo PL, ficando em segundo lugar. Próximo de Bolsonaro, ele é visto como um dos nomes mais leais ao ex-presidente no Nordeste.
Recentemente, Machado passou a ser investigado também por liderar uma campanha de arrecadação de recursos para Jair Bolsonaro, supostamente sem o conhecimento do ex-presidente. Em depoimento à PF na semana passada, Bolsonaro disse que não autorizou a campanha e que Machado teria arrecadado R$ 1 milhão por conta própria.
Entenda o contexto: quem é Mauro Cid?
Mauro Cid foi o principal assessor de Bolsonaro durante seu mandato e se tornou uma das peças centrais na investigação que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado, falsificação de certificados de vacinação e tráfico de joias do acervo presidencial.
Após colaborar com a Justiça e firmar delação premiada, Cid passou a responder a diversos processos em liberdade. No entanto, as autoridades temem que ele ainda possa ter interesse em deixar o Brasil para evitar consequências penais mais severas, o que torna o caso da tentativa de obtenção de passaporte ainda mais grave.