Parlamentares do PT participaram, na quarta-feira (18/06), de um protesto em Buenos Aires contra a prisão da ex-presidente argentina Cristina Kirchner, condenada por corrupção. O ato ocorreu no momento em que cresce o debate sobre o Brasil estar se tornando um porto seguro para políticos condenados em escândalos de corrupção na América Latina, após o governo Lula ter concedido asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, sentenciada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro.
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) e a deputada estadual Laura Sito (PT-RS) marcaram presença no ato em apoio a Cristina. Nas redes sociais, Laura publicou um vídeo em que aparece na manifestação, estimada por ela em quase 1 milhão de pessoas, denunciando o que chamou de “lawfare” contra a ex-presidente argentina, que cumpre pena domiciliar de seis anos e teve seus direitos políticos cassados.
“Estamos marchando com quase 1 milhão de argentinos para denunciar o lawfare que vive e que aprisiona de maneira arbitrária Cristina Kirchner”, afirmou Laura. A deputada ainda clamou pela liberdade da líder peronista.
Paulo Pimenta, por sua vez, declarou que foi à Argentina representar o PT “nesse importante ato contra mais uma injustiça do judiciário”. Em nota, o deputado comparou a situação de Kirchner às perseguições políticas sofridas, segundo ele, por Perón, na Argentina, e por Lula, no Brasil.
Brasil concede asilo a ex-primeira-dama condenada
Enquanto parlamentares brasileiros demonstram solidariedade à ex-presidente argentina, o governo Lula enfrenta críticas por ter concedido asilo à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por receber quase US$ 3 milhões em propinas da construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor) e do governo da Venezuela para financiar campanhas eleitorais.
A decisão gerou forte reação de entidades como a Transparência Internacional – Brasil, que classificou a medida como um “sinal preocupante de tolerância com práticas ilícitas”. Segundo nota da entidade, o ato compromete o combate à impunidade na América Latina e reforça a percepção de que o Brasil está se tornando um refúgio para políticos condenados.
“Ao acolher uma pessoa condenada por crimes de corrupção, o Brasil envia um sinal preocupante de tolerância com práticas ilícitas que corroem as instituições democráticas e prejudicam o desenvolvimento dos países latino-americanos”, disse a Transparência Internacional, em nota publicada em abril.
Provas anuladas no Brasil
A organização também criticou o desmonte de marcos legais anticorrupção no Brasil, incluindo as anulações de provas da Odebrecht pelo STF. Decisões monocráticas dos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli resultaram no cancelamento de mais de cem condenações relacionadas à Lava Jato, mesmo em casos com confissões e valores devolvidos ao erário.
No Peru, ao contrário, a Justiça validou as provas, confirmadas por autoridades suíças que tinham acesso aos servidores originais da construtora brasileira.
“É gravíssimo que o Brasil esteja se transformando em um cemitério de provas do maior esquema de suborno transnacional da história”, alertou a entidade.
Conexão política e ideológica
A presença de parlamentares petistas em atos de apoio a líderes sul-americanos condenados por corrupção revela não apenas afinidades políticas e ideológicas, mas também uma estratégia de narrativa regional. Tanto Cristina Kirchner quanto Nadine Heredia, embora condenadas judicialmente, são retratadas por apoiadores como vítimas de perseguição política e judicial.
Especialistas em Direito Internacional ouvidos por veículos estrangeiros, como BBC e El País, alertam que essas atitudes podem isolar o Brasil diplomaticamente, além de gerar riscos reputacionais ao país em organismos multilaterais voltados ao combate à corrupção.
Enquanto isso, Kirchner continua em prisão domiciliar na Argentina, e Nadine Heredia permanece no Brasil sob proteção diplomática, alimentando o debate sobre a real disposição do governo brasileiro em enfrentar a corrupção de forma firme e independente.