O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está no centro de um dos maiores escândalos de corrupção recente envolvendo verbas públicas. O lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, é apontado como o principal articulador de um esquema que desviou aproximadamente R$ 580 milhões de aposentadorias e pensões por meio de descontos associativos indevidos.
A investigação, conduzida pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Sem Desconto, revelou que Antunes recebia comissão de 27,5% sobre os valores descontados diretamente dos benefícios dos segurados, com respaldo de contratos firmados entre entidades de fachada e o INSS. A atuação do lobista incluía desde consultorias até o suborno de ex-diretores da autarquia federal para garantir autorização a essas entidades.
Entre os nomes investigados estão André Fidelis, Alexandre Guimarães e Virgílio Oliveira Filho, todos ex-dirigentes do INSS que teriam recebido vantagens indevidas em troca de favorecimento às associações fraudadoras.
Contratos milionários e escalada de receita suspeita
Um dos principais exemplos é o contrato assinado por Antunes com o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) em setembro de 2023. Apenas seis meses depois, a receita da entidade saltou de R$ 574 mil para quase R$ 10 milhões mensais. Segundo os investigadores, o contrato previa também a atuação em “auditorias internas” e reformulações nos estatutos das entidades para facilitar a captação de novos associados e a aplicação dos descontos via INSS.
Outro núcleo da fraude envolve o empresário Maurício Camisotti, suspeito de utilizar laranjas para fundar diversas associações de fachada. Estima-se que essas organizações tenham movimentado R$ 580 milhões apenas em 2024, sendo que R$ 43 milhões foram para empresas diretamente ligadas a Camisotti. Uma das entidades, a Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos), repassou R$ 11 milhões para a consultoria Prospect, de propriedade de Antunes.
Relações com o poder e indícios de tráfico de influência
O caso também revela conexões com figuras influentes em Brasília. O Cebap contratou o escritório do filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, no final de 2024, com o objetivo de atuar junto a órgãos federais e garantir a manutenção dos acordos com o INSS. O contrato foi descoberto no computador de Charles Ariel, ex-presidente do Cebap e aliado de Camisotti.
A revelação desse contrato levanta questionamentos sobre tráfico de influência e conflito de interesses, especialmente considerando o avanço do faturamento do Cebap em tempo recorde após a formalização do acordo com o INSS.
Impacto nos beneficiários e resposta do governo
As fraudes afetaram diretamente a vida de milhares de aposentados e pensionistas, que tiveram valores descontados sem autorização. Segundo auditoria recente do INSS, mais de 1,9 milhão de pedidos de cancelamento de descontos indevidos foram registrados entre janeiro de 2023 e maio de 2024. O impacto administrativo foi estimado em 49 mil dias de trabalho de servidores públicos, além de um prejuízo operacional de R$ 5,9 milhões.
O INSS informou que colabora com as investigações, mas não comentou as acusações diretamente por envolverem processos ainda sob segredo de Justiça. A Polícia Federal segue apurando os desdobramentos e possíveis ramificações políticas do esquema.