Circula nas redes sociais uma alegação de que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teria acusado um país ocidental de fornecer urânio ao Irã — e que esse país seria o Brasil. A narrativa ganhou força após uma entrevista concedida por Netanyahu à Fox News no dia 15 de junho. No entanto, essa afirmação é falsa.
De acordo com verificação do Estadão Verifica, a transcrição completa da entrevista — com duração de 32 minutos — não contém qualquer menção à palavra “Ocidente” ou à insinuação de que um país aliado do Irã tenha fornecido material nuclear. O vídeo está disponível no canal oficial da emissora, com mais de 4 milhões de visualizações.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear do Brasil (CNEN) afirmou, em nota, que não houve qualquer exportação de urânio ao Irã.
Apesar disso, o contexto geopolítico é delicado. O pouso recente — pela segunda vez — de um Airbus A340 da República Islâmica do Irã em Brasília, sem explicações claras, durante o Fórum Parlamentar dos BRICS, levanta questionamentos. A aeronave fez escalas em Caracas (Venezuela) e Havana (Cuba), dois regimes próximos ao Irã e frequentemente associados a movimentações diplomáticas sigilosas.
O governo brasileiro não se manifestou oficialmente sobre a lista de passageiros, objetivos do voo, nem sobre eventuais cargas diplomáticas. O silêncio contrasta com a crescente pressão internacional por transparência diante de suspeitas de cooperação militar ou tecnológica entre regimes que desafiam a ordem ocidental.
A ausência de informações oficiais favorece a propagação de teorias da conspiração e prejudica a credibilidade diplomática do Brasil em fóruns multilaterais. Em tempos de polarização e tensões nucleares, transparência é o mínimo que se espera de um Estado democrático.