Uma jovem venezuelana de 25 anos foi condenada a dez anos de prisão após publicar comentários críticos ao governo nas redes sociais. A decisão, divulgada pela agência AFP nesta quinta-feira (26), foi tomada por um tribunal no Estado de Monagas, no nordeste da Venezuela, em meio a um cenário de crescente repressão contra opositores do regime de Nicolás Maduro.
Identificada como Merlys Oropeza, a jovem foi presa em agosto de 2024, dias depois de escrever no Facebook uma frase considerada ofensiva: “Que ruim que uma pessoa dependa de uma bolsa.” O comentário, que criticava o programa governamental de distribuição de alimentos, foi interpretado como uma provocação contra uma militante chavista que administra os benefícios sociais na comunidade local.
A Justiça venezuelana enquadrou Oropeza no crime de incitação ao ódio, previsto em uma lei que, segundo organizações de direitos humanos, tem sido amplamente utilizada para silenciar opositores e restringir a liberdade de expressão no país. A corte não divulgou nota oficial sobre o julgamento, e a família da jovem preferiu não se pronunciar.
Símbolo da repressão
O caso de Merlys Oropeza ganhou repercussão nas redes sociais após a circulação de uma carta que a jovem escreveu aos pais de dentro da prisão. No texto, ela revelou profundo desespero: “Estou destruída, mãe, estou vazia, pai. Não encontro motivos para continuar vivendo.”
Organizações internacionais de direitos humanos classificaram a condenação como mais uma demonstração de autoritarismo do governo de Nicolás Maduro, reeleito no ano passado em uma disputa marcada por denúncias de fraude eleitoral e repressão violenta contra manifestantes.
Segundo entidades independentes, cerca de 2,4 mil pessoas foram detidas durante os protestos que contestaram o resultado das eleições de julho de 2024, que também deixaram 28 mortos e quase 200 feridos. Embora parte dos presos tenha sido libertada nos meses seguintes, muitos saíram em condições precárias de saúde.
Para analistas, a prisão e condenação de Oropeza evidenciam o clima de medo imposto pelo regime chavista e a dificuldade de manifestação livre no país. O governo venezuelano não se pronunciou oficialmente sobre o caso.