Comissão Parlamentar de Inquérito das Apostas Esportivas (CPI das Bets) encerrou seus trabalhos nesta semana sem aprovar um relatório final. Em uma sessão esvaziada e marcada por articulações de bastidores, o parecer apresentado pela relatora senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) foi rejeitado por 4 votos a 3. A CPI havia sido criada para investigar irregularidades no setor de apostas esportivas online e a suposta relação entre influenciadores digitais e plataformas de jogos.

Mesmo com a derrota, Soraya anunciou que levará seu relatório pessoalmente à Polícia Federal, à Procuradoria-Geral da República, ao Supremo Tribunal Federal e ao Ministério da Justiça, para que os órgãos avaliem o conteúdo e decidam sobre a abertura de novas investigações. Segundo a parlamentar, o documento contém “provas robustas” e recomenda o indiciamento de 16 pessoas, entre elas influenciadores digitais, dirigentes de empresas do setor e operadores financeiros suspeitos de lavagem de dinheiro.

“Não houve vitória de inocentes, mas blindagem de interesses. A CPI acabou, mas as investigações continuam. Eu vou até o fim”, declarou Soraya.

Influenciadores no foco

A senadora solicitou o indiciamento de nomes ligados à promoção de sites de apostas sem a devida transparência contratual ou sem observância de regras básicas de publicidade e proteção a menores. Embora os nomes não tenham sido oficialmente divulgados, especula-se que entre os citados estejam figuras públicas com grande influência nas redes sociais.

Defesa de Virginia Fonseca comemora

Um dos nomes ligados ao debate durante a CPI, a influenciadora Virginia Fonseca, celebrou por meio de sua assessoria jurídica a rejeição do relatório. Em nota assinada pelo advogado Michel Saliba, a defesa afirmou que “fez-se justiça”, destacando que Virginia sempre respeitou a legislação vigente ao promover marcas e serviços online.

“A decisão confirma que não há fundamentos jurídicos para qualquer responsabilização. Virginia recebe com tranquilidade e confiança nas instituições o encerramento da comissão”, afirma o comunicado.

CPI termina sem consenso e sem encaminhamentos formais

CPI das Apostas foi instalada em novembro de 2024, em meio ao crescimento explosivo do setor de apostas esportivas no Brasil, impulsionado pela regulamentação sancionada em 2023 que permitiu a operação legal de plataformas online no país. Durante os sete meses de funcionamento, o colegiado realizou mais de 20 audiências, ouviu executivos, advogados e personalidades da internet, mas não conseguiu um consenso sobre a responsabilização de condutas.

A divisão política também ficou evidente na votação final: senadores governistas e membros de partidos aliados do centrão articularam contra o relatório de Soraya, considerada independente e crítica tanto ao governo quanto à oposição.

Contexto: um mercado bilionário sob pressão

Com projeção de movimentar mais de R$ 12 bilhões em 2025, o mercado de apostas esportivas online se tornou uma fonte de receitas e também de controvérsias no Brasil. A ausência de uma fiscalização robusta e a popularização de “tips” e apostas entre adolescentes acenderam o alerta de especialistas, que defendem maior regulação e punições claras para práticas abusivas de marketing.

Entidades como o Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR) defendem a criação de uma agência reguladora independente, nos moldes da ANS ou ANATEL, para fiscalizar o setor e garantir que a publicidade seja ética e transparente.

O que vem a seguir?

Com o fim da CPI, caberá agora ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal e ao Ministério Público decidir se as denúncias apresentadas de forma independente por Soraya Thronicke serão transformadas em inquéritos criminais formais.

A expectativa é de que, nos próximos meses, novos debates surjam no Congresso sobre a regulamentação da publicidade de apostas, especialmente em redes sociais e plataformas como YouTube, TikTok e Instagram, onde jovens são frequentemente expostos a conteúdo relacionado a jogos.


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