O maior golpe já registrado contra o sistema Pix no Brasil ganhou novos desdobramentos nesta sexta-feira (4), após a prisão, em São Paulo, de um suspeito apontado como cúmplice dos hackers que invadiram sistemas ligados ao Banco Central. O ataque resultou no desvio de ao menos R$ 800 milhões na última terça-feira (1º).

Investigadores do Departamento de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil paulista, prenderam na noite de quinta-feira (3) um técnico de tecnologia da informação que trabalhava na C&M Software, empresa responsável por intermediar pagamentos via Pix entre fintechs e o Banco Central. A identidade do suspeito não foi divulgada oficialmente.

Segundo informações da TV Globo e GloboNews, o técnico confessou aos policiais ter sido aliciado por integrantes do grupo hacker. Ele relatou ter sido abordado por um homem, quando saía de um bar próximo à sua residência, que lhe ofereceu R$ 5 mil para entregar senhas de acesso a sistemas internos da empresa. Essas credenciais teriam sido usadas pelos criminosos para viabilizar o roubo milionário.

A Polícia Federal (PF), que conduz o inquérito principal, informou que não realizou a prisão, mas confirmou que o caso segue sob investigação e em sigilo. A Gazeta do Povo buscou mais informações junto ao Deic, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

O maior golpe já registrado via Pix

O golpe expôs vulnerabilidades em sistemas intermediários que fazem a ponte entre bancos e o Banco Central. Esses sistemas, operados por empresas privadas como a C&M Software, processam as transações do Pix, tecnologia que revolucionou os pagamentos instantâneos no país desde seu lançamento, em 2020.

O Banco Central, procurado por veículos de imprensa, ainda não se manifestou oficialmente sobre a gravidade do ataque. Fontes próximas às investigações indicam que o BC atribuiu parte da dificuldade em conter brechas de segurança à falta de recursos humanos, resultado de restrições orçamentárias e escassez de concursos públicos para áreas técnicas.

Golpes digitais em alta

Desde que surgiu, o Pix se tornou o meio de pagamento preferido dos brasileiros, com mais de 160 milhões de usuários e movimentação superior a R$ 17 trilhões em 2024, segundo dados oficiais. O crescimento acelerado, porém, veio acompanhado do aumento de fraudes. Levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revela que as tentativas de golpes envolvendo o Pix cresceram 74% entre 2022 e 2024, incluindo golpes de engenharia social, invasão de contas e sequestro digital.

Mesmo assim, casos com cifras tão elevadas quanto o atual são inéditos. “A maior parte das fraudes no Pix até agora era pulverizada, envolvendo valores menores e muitas vítimas físicas ou jurídicas. Este caso rompe essa barreira e representa um ataque sistêmico, o que é muito mais preocupante,” avalia Leonardo Palhares, advogado especializado em Direito Digital e presidente da Câmara Brasileira de Economia Digital (camara-e.net).

Crimes investigados

Os envolvidos poderão responder por crimes como invasão de dispositivo informático, furto mediante fraude, lavagem de dinheiro e organização criminosa — cujas penas somadas podem ultrapassar 20 anos de prisão.

A PF, por meio da Diretoria de Repressão aos Crimes Cibernéticos em Brasília, conduz as investigações principais. “O rastreamento de valores desviados é um desafio imenso, sobretudo quando há envio de recursos para o exterior ou conversão em criptoativos,” disse, sob anonimato, um delegado envolvido no caso.

Impacto no sistema financeiro

O caso gerou grande repercussão no setor financeiro. A Febraban divulgou nota afirmando que o sistema bancário brasileiro é um dos mais avançados do mundo em segurança cibernética, mas destacou que a sofisticação crescente dos ataques exige atualização constante das defesas.

Até o momento, não há indícios de prejuízos diretos a clientes bancários finais, mas especialistas avaliam que o escândalo poderá motivar revisões regulatórias e novos investimentos em segurança. “É um divisor de águas para o setor. O Pix continuará seguro, mas eventos assim pressionam o mercado e exigem respostas rápidas do Banco Central e das empresas envolvidas,” alerta Palhares.

A Polícia Federal segue investigando o destino dos valores desviados e os demais envolvidos na maior fraude cibernética já registrada contra o sistema financeiro brasileiro.

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