A reportagem da revista VEJA, publicada em 12 de junho de 2025, revela um grave abalo na credibilidade da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Segundo documentos e mensagens obtidas pela revista, Cid mentiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante interrogatório, ao negar o uso de redes sociais para tratar de sua delação, contrariando provas que indicam o contrário.
Principais pontos da reportagem:
1. Mentira sob juramento
Durante o interrogatório no STF, Cid negou repetidamente ter usado redes sociais para tratar de sua colaboração premiada. Questionado sobre o perfil no Instagram @gabrielar702, afirmou que não sabia se pertencia à sua esposa. Contudo, mensagens obtidas por VEJA provam que ele usou esse perfil para discutir sua delação, revelando bastidores dos depoimentos, fazendo críticas ao ministro Alexandre de Moraes e comentando estratégias jurídicas.
2. Violação do acordo de colaboração
O acordo de delação impõe obrigações rígidas:
- Falar sempre a verdade.
- Não usar redes sociais.
- Não manter contato com outros investigados.
- Manter sigilo sobre o conteúdo da colaboração.
As conversas obtidas violam ao menos três dessas cláusulas. Isso coloca em risco a validade do acordo, podendo levar à anulação dos benefícios judiciais concedidos a Cid, como a redução de pena e proteção da PF.
3. Conteúdo das mensagens
As mensagens trocadas entre janeiro e março de 2024 incluem:
- Críticas duras a Alexandre de Moraes (“AM é o cão de ataque”).
- Desabafos sobre pressão e manipulação por parte da PF.
- Afirmações de que o STF já teria sentenciado Bolsonaro, Braga Netto, Heleno e outros.
- Tentativa de preservar Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente “não iria fazer nada”.
4. Impacto jurídico
A revelação pode enfraquecer substancialmente o processo contra Bolsonaro e outros acusados da tentativa de golpe de Estado. Como a delação de Cid é peça central da acusação, sua invalidação poderia abrir margem para:
- A revisão ou nulidade de provas derivadas.
- Redução do impacto da denúncia da PGR.
- Transferência da discussão para o plenário do STF (onde a composição política é diferente da Primeira Turma).
5. Reação da defesa de Bolsonaro
A defesa do ex-presidente vê na mentira de Cid uma arma para desqualificar a delação e, possivelmente, reverter as acusações. Os advogados de Bolsonaro já articulam o uso do episódio para pedir a rescisão do acordo de colaboração e questionar a condução da investigação.
6. Próximos passos
- Alexandre de Moraes, relator do caso, decidirá se anula ou não o acordo.
- A PGR e a PF também podem solicitar a rescisão.
- Caso o acordo seja anulado, Cid pode pegar até 40 anos de prisão e perder todos os benefícios, inclusive os estendidos a familiares.
Conclusão
O caso Mauro Cid representa um ponto de inflexão no processo que investiga a tentativa de golpe de 2022. Se confirmada a quebra do acordo de delação, o processo entra em território instável, podendo favorecer os réus — inclusive Jair Bolsonaro — com a erosão de uma das provas-chave da acusação. No entanto, o volume de evidências independente da delação (quase 80 terabytes) pode sustentar parte da acusação mesmo sem a colaboração de Cid. A decisão de Moraes será estratégica e determinante para o futuro do caso.