Porto Velho, RO – Com a chegada do período seco, os órgãos ambientais de Rondônia se mobilizam para evitar a repetição do cenário crítico vivido em 2024, quando o estado enfrentou uma das piores crises ambientais dos últimos anos. A capital Porto Velho chegou a liderar o ranking nacional de pior qualidade do ar, e o estado registrou um aumento alarmante no número de focos de queimadas, com mais de 3.400 apenas em agosto.
Para 2025, a ordem é intensificar as ações preventivas e de combate aos incêndios florestais, que têm origem principalmente no desmatamento ilegal e na prática das queimadas clandestinas. A força-tarefa envolve o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e o Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia.
Entre janeiro e agosto do ano passado, Rondônia registrou o maior número de focos de queimadas em cinco anos, segundo dados do Programa BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em agosto de 2024, foram contabilizados 3.423 focos, um aumento de 144% em relação ao mesmo mês de 2023.
A fumaça tomou conta de diversas cidades do estado, reduzindo a visibilidade e comprometendo a saúde da população. A plataforma suíça IQAir apontou Porto Velho como a cidade com o pior índice de qualidade do ar do país, chegando a atingir a classificação “Perigosa”, com um índice de 874 em determinados dias — o mais alto da escala, que considera riscos sérios à saúde humana.
Moradores enfrentaram semanas de céu encoberto, ar irrespirável e aumento significativo de atendimentos médicos por problemas respiratórios. Imagens da cidade encoberta pela fumaça circularam em todo o país, evidenciando a gravidade da situação.
Diante dos impactos severos do ano anterior, os órgãos de fiscalização reforçaram suas estratégias. O superintendente do Ibama em Rondônia, César Luiz, afirmou que houve um aumento de mais de 50% no efetivo de combate. “Mais de 300 brigadistas foram contratados para atuar especialmente em áreas críticas, como terras indígenas e quilombolas no chamado Arco do Desmatamento”, explicou.
A lógica por trás da atuação direcionada é clara: “Só se queima o que foi derrubado. Se temos grandes áreas desmatadas, inevitavelmente teremos mais focos de fogo”, completou César.
O Corpo de Bombeiros também ampliou a contratação de brigadistas e equipou melhor suas bases operacionais. A corporação deve intensificar as ações nos municípios que mais sofreram em 2024, como Porto Velho, Candeias do Jamari, Nova Mamoré e Guajará-Mirim.
Já a Sedam aposta na prevenção por meio da educação ambiental, firmando parcerias com escolas, associações comunitárias e prefeituras para conscientizar a população sobre os riscos e consequências das queimadas.
Além das ações de campo, a Sedam desenvolve campanhas educativas para reduzir os focos intencionais de incêndio, comuns na preparação de áreas para agricultura. Em paralelo, drones e satélites estão sendo utilizados para monitorar áreas de risco em tempo real, permitindo uma resposta mais rápida às ocorrências.
O governo estadual também trabalha para fortalecer a aplicação de multas e sanções administrativas contra infratores, com apoio da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Meio Ambiente (DERCCMA).
Especialistas alertam que, mesmo com os esforços reforçados, o risco de crise ambiental ainda é alto, especialmente com a previsão de estiagem prolongada nos próximos meses. As autoridades pedem a colaboração da população na denúncia de focos ilegais e na adoção de práticas sustentáveis.
“Não podemos permitir que Rondônia volte a aparecer no topo dos rankings de poluição. Cada foco evitado é uma vida preservada, uma árvore que continua em pé e um alívio para nosso sistema de saúde”, destacou um oficial do Corpo de Bombeiros.