A Polícia Federal (PF) está investigando o Banco Master por envolvimento em um suposto esquema de fraude bilionária envolvendo precatórios — títulos de dívidas judiciais do poder público. De acordo com documentos do inquérito, um fundo ligado à própria instituição teria vendido os papéis ao banco com valorização artificial de até 235%, inflando de forma fraudulenta o balanço patrimonial da empresa.
A denúncia que deu origem à investigação, revelada pelo jornal O Globo, foi apresentada em março de 2024 pelo fundo ESH Theta, que também notificou o Banco Central. O inquérito, que já ultrapassa 900 páginas, aponta que o Master teria utilizado práticas contábeis atípicas por meio de seus Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs).
Esquema “Zé com Zé”: o caso Amazonita
O centro das investigações é o chamado caso Amazonita — nome de um dos fundos envolvidos na transação. Segundo a PF, o fundo Amazonita adquiriu precatórios por R$ 136,5 milhões e os revendeu cinco dias depois ao Banco Master por R$ 320 milhões, numa operação conhecida no mercado como “Zé com Zé” — quando entidades ligadas ao mesmo grupo simulam operações com sobrepreço para inflar o patrimônio.
A manobra, segundo investigadores, teria como finalidade fortalecer artificialmente os ativos do banco, apresentando solvência e liquidez superiores à realidade. A prática é considerada fraude contábil, especialmente por violar normas de transparência e confiabilidade do mercado financeiro.
Banco Central e Cade monitoram venda ao BRB
Em meio às investigações, o Banco de Brasília (BRB) anunciou em março de 2025 o plano de adquirir 58% do capital do Banco Master por R$ 2 bilhões. Apesar da operação, os acionistas atuais manteriam o controle da instituição, o que gerou desconfiança entre especialistas do setor financeiro, que veem o negócio como tentativa de resgate de um banco com dificuldades de liquidez.
A concretização da venda ainda depende da aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que já analisam os impactos da aquisição à luz das investigações em curso.
Preocupações com os CDBs e risco sistêmico
A maior parte dos recursos captados pelo Banco Master vem da emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), que são oferecidos a investidores com rendimento acima da média do mercado. Com a revelação do inquérito, crescem os alertas sobre a capacidade da instituição de honrar seus compromissos no longo prazo, especialmente se os ativos estiverem inflacionados de maneira fraudulenta.
O que dizem os envolvidos
Até o momento, o Banco Master não se pronunciou oficialmente sobre o caso. A PF segue investigando a possível responsabilidade criminal dos dirigentes da instituição, além de eventuais conluios com administradores dos fundos envolvidos nas operações.