As estatais federais brasileiras acumularam um déficit histórico de R$ 2,73 bilhões entre janeiro e abril de 2025, de acordo com o mais recente relatório de estatísticas fiscais divulgado pelo Banco Central (BC) nesta sexta-feira (30). O valor representa o pior resultado desde o início da série histórica da instituição, em 2002, e aponta um aumento de 62,8% em relação ao mesmo período de 2024.
Somente em abril, o prejuízo das estatais chegou a R$ 1,4 bilhão, também o maior da série para o mês.
Crescente deterioração sob o governo Lula
Durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os quatro primeiros meses de cada ano foram marcados por resultados negativos crescentes:
- 📌 2023: Déficit de R$ 1,842 bilhão
- 📌 2024: Déficit de R$ 1,678 bilhão
- 📌 2025: Déficit de R$ 2,73 bilhões
O aumento expressivo preocupa especialistas em contas públicas e reforça as críticas da oposição sobre a gestão das estatais durante a atual administração federal.
Correios lideram prejuízo
Entre as estatais que mais pesaram no déficit está a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios), que registrou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre de 2025, mais que o dobro (115%) do resultado negativo no mesmo período de 2024.
Os Correios, que vêm enfrentando queda de receitas, aumento de despesas operacionais e desafios de modernização, atribuem parte do rombo a gastos com reestruturação interna e passivos trabalhistas.
Divergência de critérios entre BC e governo
A divulgação dos números também trouxe à tona uma disputa técnica e política entre o Banco Central e o Ministério da Gestão e Inovação, comandado por Esther Dweck.
A ministra criticou a metodologia do BC, que adota a abordagem “abaixo da linha”, baseada na variação da dívida. Já o Tesouro Nacional calcula os dados das estatais com o método “acima da linha”, que considera diretamente as receitas e despesas efetivas.
Segundo Dweck, nem todas as 19 estatais monitoradas pelo governo são consideradas nos cálculos do Banco Central, o que, segundo ela, poderia distorcer o cenário real. A ministra afirmou ainda que algumas empresas que aparecem como deficitárias nos números do BC teriam, na verdade, registrado superávit.
"É preciso olhar com cautela para esses dados, pois há diferenças metodológicas significativas. Algumas estatais estão sendo injustamente classificadas como deficitárias", declarou a ministra.
Impacto político
O resultado fiscal negativo das estatais reforça o cenário de desgaste político para o governo Lula, que já enfrenta críticas em outras áreas da economia, como o aumento da dívida pública e os entraves no ajuste fiscal.
Analistas avaliam que o quadro atual pode pressionar o Planalto a adotar medidas de contenção de gastos nas estatais ou acelerar programas de privatização e concessões, bandeiras defendidas pela oposição, mas que enfrentam resistência interna no governo.