O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) iniciou uma greve de fome e um protesto permanente dentro da Câmara dos Deputados, após o Conselho de Ética aprovar, por 13 votos a 5, o parecer que recomenda a cassação de seu mandato. A votação aconteceu na noite desta quarta-feira (9), em meio a forte tensão e acusações de interferência política por parte do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
A sessão do Conselho foi marcada por tumultos e discursos inflamados. Glauber, que acompanhou toda a votação no plenário e chegou a dormir no chão da Câmara em protesto, declarou nas redes sociais:
“Estou há mais de 30 horas apenas com ingestão de líquidos. Essa é uma decisão política. Não serei derrotado por Arthur Lira e pelo orçamento secreto. Vou às últimas consequências.”
Ao seu lado, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), de 90 anos, declarou apoio irrestrito e também aderiu à greve de fome. Em uma fala emocionada, ela afirmou:
“A cassação de Glauber não é apenas uma injustiça, é um ataque direto à democracia e à independência do Parlamento.”
Motivo da cassação: confronto com membro do MBL
Glauber Braga foi denunciado ao Conselho de Ética pelo partido Novo, após ter expulsado com empurrões e chutes Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), em abril de 2024. O episódio ocorreu durante manifestação de apoio a motoristas de aplicativo, enquanto se discutia o projeto de regulamentação da profissão (PL 12/24). A cena foi filmada e gerou grande repercussão.
A defesa de Glauber argumenta que Costenaro o teria provocado e ofendido sua mãe, o que motivou a reação. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) apresentou voto em separado pedindo apenas advertência ou suspensão. “A cassação é uma medida extrema e desproporcional. Existem precedentes que foram julgados com muito mais sensatez”, disse.
Acusações de interferência e manobra política
Deputados do PSOL, PT, PSB e outros partidos de esquerda denunciam que a cassação de Glauber foi articulada nos bastidores por Arthur Lira — em retaliação pelas críticas públicas do parlamentar ao orçamento secreto e à distribuição de emendas parlamentares enquanto Lira presidia a Câmara.
A atual gestão da Casa, sob o comando de Hugo Motta (Republicanos-PB), também foi duramente criticada. Segundo a líder do PSOL, Talíria Petrone, Motta teria se omitido deliberadamente e evitado iniciar a ordem do dia no plenário, o que permitiria o encerramento da sessão do Conselho de Ética.
“Motta tomou para si a vingança de Lira contra Glauber. Desde as 11h tentei contato com ele, sem resposta. Foi uma ação orquestrada”, denunciou Talíria.
Próximos passos
A decisão do Conselho ainda não é definitiva. O processo será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, posteriormente, submetido ao plenário da Câmara, onde serão necessários 257 votos favoráveis para confirmar a cassação.
Enquanto isso, Glauber Braga permanece acampado no plenário, em greve de fome. Ele recebeu apoio de movimentos sociais, sindicatos, colegas de esquerda e de artistas nas redes sociais.
A TVT News e a Agência Câmara informaram que a segurança da Câmara já se prepara para garantir a ordem e acompanhar o estado de saúde do deputado e da deputada Erundina, caso o protesto se estenda.